Podemos dizer que a moda, ao longo dos anos, moldou o nosso papel na sociedade? Para começarmos essa reflexão, precisamos considerar a representação do vestuário na história. Além dos aspectos funcionais como proteger o corpo, as roupas também são uma ferramenta não verbal de comunicação, atuando na construção social da identidade.
De acordo com Crane (2013), o vestuário feminino do século XIX era uma forma de controle social que refletia o papel restrito das mulheres na sociedade. Enquanto os homens possuíam mais “funções” sociais, as mulheres eram submetidas à um vestuário que restringia o movimento do corpo devido aos excessos de tecidos e ornamentos, bem como espartilhos. Essa indumentária deixava o claro o papel submisso que elas deveriam desempenhar e, consequentemente, a dependência financeira do sexo masculino.
A repressão sob o corpo feminino era tanta que a moda francesa dó século XIX influenciou na taxa de natalidade do país, pois prejudicava o bem-estar físico das usuárias. Mudanças nas roupas francesas foram apresentadas em 1887, com o objetivo de eliminar o espartilho, entretanto, no mesmo ano, a calça feminina foi proibida por lei. As mulheres que usavam calças eram vistas como usurpadoras da autoridade masculina e motivo de chacota. As desobedientes à ordem social vigente eram retratadas em sátiras usando essa peça de roupa.
Porém, com a chegada do século XX e as duas guerras mundiais, a mulher teve que assumir (além do papel doméstico) as ocupações que até então eram restritas aos homens e isso evidenciou a necessidade de reforma do vestuário. No período de 1920 – 1960 a moda acompanhou as mudanças sociais, caracterizando-se como uma moda progressista. As mulheres começaram a conquistar o seu espaço, sendo o direito ao voto um marco importante na história. Essas transformações sociais foram acompanhadas de uma “rebeldia” no modo de vestir. Coco Chanel incorporou peças do guarda-roupa masculino nas suas criações, as calças deixaram de ser restritas ao ambiente esportivo, Mary Quant apresentou a minissaia e assim, aos poucos, fomos conhecendo a liberdade e ocupando lugares até então desconhecidos por nós.
O resultado? Não aceitar que nos limitem e, claro, as roupas estão aí para provar! Agora, retorno ao questionamento inicial: a moda moldou (e ainda molda) o nosso comportamento?
Referências bibliográficas:
CRANE, Diana. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das roupas. 2ª Ed. São Paulo: Editora Senac, 2013.
MACKENZIE, Mairi. Ismos: para entender a moda. São Paulo: Globo, 2010.
STEVENSON, NJ. Cronologia da moda: de Maria Antonieta a Alexander McQueen. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.